Mu: o que precisa saber sobre a nova variante do coronavírus

Mu: o que precisa saber sobre a nova variante do coronavírus

SARS-CoV-2, o coronavírus que causa a Covid-19

Onde é que a Mu é mais comum? Como é que está a sua situação em Portugal? Quão perigosa é? As respostas a todas as dúvidas sobre a nova variante de interesse.

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) adicionou outra variante do coronavírus à sua lista para monitorizar. É chamada de variante Mu e foi designada uma variante de interesse (VOI, na sigla em inglês).

O que isto significa é que a Mu tem diferenças genéticas com as outras variantes conhecidas e está a causar infeções em vários países, podendo, portanto, representar uma ameaça específica à saúde pública.

É possível que as alterações genéticas da Mu possam torná-la mais transmissível, permitir que cause doença mais grave e torná-la mais capaz de escapar da resposta imune impulsionada por vacinas ou infeção com variantes anteriores. Isto, por sua vez, pode deixá-la menos suscetível a tratamento.

Atente na palavra “pode”. Uma VOI não é uma variante de preocupação (VOC, na sigla em inglês), que é uma variante que comprovadamente adquire uma dessas características, tornando-a mais perigosa. A Mu está a ser monitorizada de perto para ver se deve ser redesignada como uma VOC.

O que torna a Mu particularmente interessante (e preocupante) é que tem o que a OMS chama de “constelação de mutações que indicam propriedades potenciais de fuga imunológica”. Por outras palavras, pode ser capaz de contornar a proteção da vacina.

 

Onde se está a espalhar?

A Mu foi detetada pela primeira vez na Colômbia em janeiro de 2021, quando recebeu a designação de B1621. Desde então, foi detetada em 40 países — incluindo Portugal —, mas acredita-se que atualmente seja responsável por apenas 0,1% das infeções em todo o mundo.

A Mu tem sido muito mais prevalecente na Colômbia do que em qualquer outro lugar. Ao observar as amostras de coronavírus que foram sequenciadas geneticamente, 39% das analisadas na Colômbia correspondiam à Mu — embora nenhuma amostra tenha sido registada nas últimas quatro semanas.

Em contraste, 13% das amostras analisadas no Equador eram Mu, com a variante a representar 9% das amostras sequenciadas nas últimas quatro semanas, enquanto no Chile pouco menos de 40% das amostras sequenciadas no último mês correspondiam a esta variante. Isto sugere que o vírus não está a circular na Colômbia, mas está a ser transmitido noutros países sul-americanos próximos.

A Mu foi detetada pela primeira vez em Portugal a 31 de maio, “tendo atingido a sua maior frequência relativa (1.2%) durante a segunda semana de junho”.

 

Quão perigosa é a Mu?

As questões principais são se a Mu é mais transmissível do que a variante dominante atualmente, Delta, e se pode causar uma forma mais grave da doença.

A Mu tem uma mutação chamada P681H, relatada pela primeira vez na variante Alfa, que é potencialmente responsável por uma transmissão mais rápida. No entanto, este estudo ainda está em pré-impressão, o que significa que as suas descobertas ainda precisam de ser revistas formalmente por outros cientistas. Ainda não se tem a certeza relativamente aos efeitos do P681H no comportamento do vírus.

Esta variante também tem as mutações E484K e K417N, que estão associadas à capacidade de evadir anticorpos contra o coronavírus — as evidências sobre isto são mais concretas. Essas mutações também ocorrem na variante Beta e, portanto, é possível que Mu possa comportar-se como Beta, contra a qual algumas vacinas são menos eficazes.

A Mu também tem outras mutações — incluindo R346K e Y144T —, cujas consequências são desconhecidas, daí a necessidade de análises adicionais.

Mas será que consegue escapar à imunidade pré-existente? Por enquanto, há apenas informações limitadas, com um estudo de um laboratório em Roma a mostrar que a vacina Pfizer/BioNTech foi menos eficaz contra a Mu, em comparação com outras variantes quando testada numa experiência em laboratório.

Apesar disso, o estudo ainda considerou robusta a proteção oferecida contra a Mu pela vacina. Na verdade, ainda não sabemos se as mutações se traduzirão num aumento de infeção e doença.

No entanto, relatórios impressionantes sobre a Mu têm aparecido. No final de julho, uma estação de notícias da Flórida relatou que 10% das amostras sequenciadas na Universidade de Miami eram desta variante. No início de agosto, a Reuters relatou que sete residentes totalmente vacinados de um asilo na Bélgica morreram de um surto de Mu. No entanto, estes são vislumbres limitados do comportamento da variante.

 

O que é que se segue?

A variante Mu é a primeira nova variante a ser adicionada à lista da OMS desde junho.

Quando uma variante é designada de interesse, a OMS realiza uma análise comparativa das suas características, avaliando como é que se compara a outras que também estão a ser monitorizadas, pedindo aos seus estados membros para recolher informações sobre a incidência e os efeitos da variante.

A designação de Mu como uma VOI reflete a preocupação generalizada sobre a possibilidade de novas variantes emergentes que podem ser problemáticas. A variante Delta, mais transmissível, que está em muitos países, mostra como as variantes virais podem mudar o curso da pandemia de maneira rápida e significativa.

Cada vez que o vírus se reproduz dentro de alguém, há uma probabilidade de sofrer uma mutação e emergir uma nova variante. Este é um jogo de números. É um processo aleatório, um pouco como lançar o dado: quanto mais se lança, maior a probabilidade de novas variantes aparecerem. A principal forma de interromper as variantes é a vacinação global.

O surgimento da Mu lembra-nos o quão importante esse objetivo permanece. Muitas pessoas, especialmente nos países em desenvolvimento, continuam não vacinadas. Devemos levar vacinas a esses países o mais rápido possível, tanto para ajudar as pessoas vulneráveis como para impedir o surgimento de novas variantes. Caso contrário, a nossa saída da pandemia será atrasada, possivelmente por meses a fio.

 

Fonte:  ZAP // The Conversation

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