Em entrevista ao Expresso, Pedro Menéres, membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, fala sobre Confinamento e Miopia.
Confinamento abriu portas à miopia. Incidência disparou 40% em crianças e jovens
O cenário é turvo e a Organização Mundial da Saúde estima que metade da população global será míope em 2050. Em declarações ao Expresso, o oftalmologista Pedro Menéres, membro da direção da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, adverte para o crescimento da miopia em grau e para o aumento da incidência deste tipo de erro refrativo em idades cada vez mais precoces.
Entre 2019 e 2020, dispararam os casos de miopia entre crianças e jovens, dos cinco aos 18 anos. Trata-se apenas de mais um dos efeitos secundários da pandemia. É que, bem vistas as coisas, a incidência média deste tipo de erro refrativo cresceu 40% durante o confinamento, período que abriu as portas a uma tendência já turva, causada pela escassez de luz natural de que os olhos tanto precisam.
Entrincheirados em casa, com escolas e parques trancados durante meses, o isolamento instalou-se entre os mais novos, focados ainda mais nos ecrãs, frequentemente acompanhados na solidão pelos computadores e smartphones, ao mesmo tempo que perderam conexão com atividades ao ar livre, ficando privados de uma dose de exposição solar essencial que, quando bem doseada, permite evitar problemas degenerativos da retina.
A conclusão é de um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), baseado em pesquisas recentes efetuadas por diferentes universidades da China, do Canadá e de vários países da América Latina. Os resultados destas investigações, publicados na revista científica “The Lancet”, confluem num ponto: a principal razão para a proliferação desta patologia durante o último ano foi a falta de luz solar, transportadora de dopamina para a retina, substância que evita que o globo ocular se torne mais longo. E, no futuro, o cenário pode ficar muito mais sombrio: a OMS estima que metade da população global será míope em 2050.
Em declarações ao Expresso, o oftalmologista Pedro Menéres adverte que “a remoção de horas ao ar livre a crianças e jovens — que estão em crescimento e é quando a miopia tem mais potencial de variação — tem certamente um grande risco” que “ainda terá de ser medido a longo prazo”. Certo é que, acrescenta, “assistimos a um crescimento de miopia em grau e a um aumento da incidência cada vez mais cedo”.
Para o diretor do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto, o crescimento da prevalência “já se fazia sentir antes do confinamento” com “um aumento da incidência da miopia durante os últimos anos nas sociedades ocidentais”.
Pensa-se, diz o especialista, que “essa tendência está relacionada com atividades de distância curta, ao computador, com maior intensidade”. Contudo, reconhece, “com a pandemia há o receio de que possa piorar, uma vez que atividades com menor luz externa condicionam essa probabilidade” de desenvolver miopia.
O também membro da direção da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia deixa o conselho “para que as famílias cuidem das crianças e jovens que estão em maior risco, no sentido de estimular o aproveitamento das atividades ao ar livre e reduzir a exposição aos ecrãs”.