Um em cada quatro portugueses terá pelo menos um episódio de depressão ao longo da vida. Felizmente os tratamentos disponíveis tornam a cura desta doença uma realidade.
No entanto, uma grande percentagem de indivíduos tratados da sua depressão mantém alguns sintomas residuais. Falta de energia, dificuldades de concentração, problemas de memória, ansiedade e irritabilidade são os mais comuns. Estes indivíduos, apesar de tratados, apresentam uma diminuição significativa da sua qualidade de vida e uma maior predisposição para novos episódios depressivos mais resistentes aos antidepressivos. O principal motivo para a manutenção destes sintomas residuais é a insónia.
Dois em cada três doentes mantêm problemas no sono mesmo depois do tratamento antidepressivo. A insónia não se manifesta apenas com a dificuldade em adormecer. Na maioria das vezes apresenta-se na forma de acordares demasiado cedo ou de vários despertares durante a noite. Os despertares durante a noite são muitas vezes lembrados pela pessoa no dia seguinte. Contudo, o mais habitual é o indivíduo não se lembrar notando-se apenas sonolento durante o dia ou com a recordação pela manhã de sonhos perturbadores.
Assim, seria de esperar que tal se resolveria com a toma de medicamentos ou suplementos naturais que nos fizessem “apagar” e entrar num sono profundo. Isso não passa de um mito. A toma de medicamentos não adequados ao perfil do doente podem trazer consequências ainda mais graves quer para a saúde mental quer para a saúde física. Levando muitas vezes a quadros de dependência de sedativos-calmantes e surgimento ou agravamento de doenças como a Apneia do Sono. Portanto é fundamental uma avaliação rigorosa da situação por profissionais especializados para um tratamento efetivo da insónia e consequente melhoria depressão e da qualidade de vida da pessoa.
Os nossos avós costumam dizer, e bem, que “dormir é meio sustento”. Eu vou mais longe: “dormir é mais de meio tratamento para a depressão”.
Dr. Pedro dos Santos Oliveira - Médico Psiquiatra